A disputa pública entre o ex-presidente Donald Trump e o empresário Elon Musk ganhou contornos mais graves nesta terça-feira, após Trump sugerir que pode acionar órgãos federais para investigar a concessão de subsídios a empresas de Musk e, eventualmente, avaliar sua deportação dos Estados Unidos.
As declarações ocorreram durante entrevista coletiva improvisada em frente à sede da Organização Trump, em Nova York. Questionado sobre as críticas recentes de Musk ao “One big beautiful bill” projeto republicano trilionário de gastos públicos, Trump respondeu:
“Vamos ter que dar uma olhada nisso. Talvez colocar o DOGE para cuidar do Elon. Ele recebeu muito dinheiro do governo americano. Talvez seja hora de devolver.”
A sigla DOGE faz referência ao Departamento de Eficiência Governamental, criado na primeira gestão Trump e, ironicamente, chefiado por Musk por um breve período em 2023. A declaração foi interpretada como ameaça direta, uma vez que o órgão pode revisar contratos, incentivos fiscais e parcerias público-privadas envolvendo empresas como Tesla, SpaceX e Neuralink.
CRÍTICAS AO PROJETO E REAÇÃO DE TRUMP
O estopim da nova fase do conflito foi a reação de Elon Musk ao megapacote de gastos proposto por Trump e aliados republicanos. O bilionário afirmou, em sua conta na plataforma X (ex-Twitter), que o projeto é “insano”, aumenta perigosamente a dívida pública e compromete o futuro econômico do país.
Musk também anunciou que pretende financiar campanhas contra parlamentares republicanos que apoiarem a medida e aventou a possibilidade de fundar um novo partido político, o America Party, como alternativa à polarização entre democratas e republicanos.
MUSK RESPONDE COM CAUTELA
Em resposta, Musk adotou tom mais contido, embora provocativo:
“É tentador escalar isso, mas vou me conter por agora.”
A declaração sugere que o empresário está disposto a continuar o embate político, mas evita, ao menos por ora, confrontos jurídicos mais diretos com o ex-presidente.
PODE MUSK SER DEPORTADO?
Apesar da retórica de Trump, especialistas jurídicos consideram improvável que qualquer processo de deportação avance. Elon Musk é cidadão naturalizado dos Estados Unidos desde 2002, e a perda da cidadania só poderia ocorrer mediante comprovação de fraude no processo de naturalização algo extremamente raro e complexo.
“Trata-se claramente de uma ameaça política, sem sustentação legal no momento. Para deportá-lo, seria necessário um processo administrativo ou judicial extenso, com direito à ampla defesa”, afirma Carla Mitchell, advogada especialista em imigração, à rede CBS.
IMPACTOS ECONÔMICOS E POLÍTICOS
As declarações de Trump tiveram repercussão imediata no mercado. As ações da Tesla registraram queda de 4,35% no pré-mercado da Nasdaq, com analistas prevendo instabilidade nos papéis de empresas associadas a Musk.
No plano político, a troca de farpas evidencia a crescente divisão dentro do campo conservador americano. Até 2022, Musk era considerado um aliado informal da ala trumpista, mas vem se afastando desde que passou a criticar abertamente políticas públicas ligadas à energia, mobilidade e regulação fiscal.
O QUE ESPERAR
A escalada verbal entre os dois ícones da direita norte-americana um ex-presidente populista e um magnata do setor tecnológico sinaliza uma nova fronteira de disputa: não apenas ideológica, mas também institucional.
Enquanto Trump aposta em retórica agressiva para desmobilizar opositores, Musk parece testar os limites de sua influência política e econômica, já sinalizando que pretende interferir diretamente nas eleições legislativas de 2026.
