Morte de gari: advogado assume defesa de Renê e revela estado ‘choroso’ de assassino confesso

Assassino confesso do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47, está com novo advogado de defesa após os primeiros defensores deixarem o caso.

O criminalista Dracon Luiz Cavalcante Lima foi habilitado no processo nesta sexta-feira (22/8), quatro dias depois de Renê admitir o crime. Essa foi, inclusive, uma condição para que o advogado aceitasse a representação. “Temos que ter responsabilidade com a profissão”, explicou.

O criminalista reafirmou que Renê se arrepende do homicídio, algo já manifestado pelo investigado no depoimento em que confessou o crime. “Eu estive com ele três dias. É um homem igual a todo mundo, que tinha seu trabalho, seu dia a dia. E ele está chorando, está choroso. Tem falado: ‘Doutor, liga para a família [de Laudemir], pede desculpas. Estou super arrependido. A minha vida cruzou com a desse moço em uma fatalidade, foi um tiro acidental’”, contou Lima.

Segundo o advogado, a orientação é de que Renê terá “o dia para falar” sobre o que ocorreu e pedir desculpas à família da vítima. Ele reforçou que não é seu objetivo “mudar a opinião pública”, mas garantir que o investigado tenha direito à defesa. “Ele confessou – e o fez porque quis – e será condenado. É o que a família quer, o que a sociedade quer. Mas isso tem que acontecer dentro de uma possibilidade que seja cabível.”

“Vamos julgá-lo, vamos condená-lo, mas desde que a pena seja justa e proporcional ao crime cometido”, acrescentou o advogado, frisando que não defende o crime, mas o direito de defesa. “Ele tem o direito de falar e de colocar tudo que aconteceu naquele caso. Vamos deixar a Justiça fazer o trabalho dela.”

Lima afirmou ainda que sua equipe irá se debruçar sobre o caso neste fim de semana. A defesa aguarda a conclusão do inquérito. Nesta quinta-feira (21), a Justiça concedeu prazo extra de 10 dias para o encerramento das investigações.

O crime
Na manhã de segunda-feira (11/8), por volta das 9h, houve uma confusão no trânsito no bairro Vista Alegre, região Oeste de Belo Horizonte. Um caminhão de coleta de lixo estava parado quando um carro BYD cinza, vindo na direção contrária, se aproximou. O motorista do carro — apontado como o suspeito — teria sacado uma arma e ameaçado a condutora do caminhão, dizendo que “iria atirar na cara” dela. Logo depois, ele teria atirado contra o gari Laudemir de Souza Fernandes, que estava trabalhando na coleta.

O gari foi atingido na região torácica, próximo às costelas, e socorrido ao Hospital Santa Rita, em Contagem, mas não resistiu aos ferimentos. Após o disparo, o suspeito fugiu no mesmo carro BYD cinza e foi localizado pela polícia na tarde do mesmo dia, enquanto malhava em uma academia de alto padrão no bairro Estoril.

Ele foi preso sem oferecer resistência. Conforme relatos das testemunhas, pouco antes de ser atingido, Laudemir teria dito: “Acertou em mim”. Testemunhas que estavam no local do crime afirmaram que o suspeito “saiu tranquilo e com semblante de bravo” após atirar na vítima.

A vítima
A vítima foi identificada como Laudemir de Souza Fernandes, 44 anos, gari da Localix Serviços Ambientais. Colegas e parentes o descrevem como trabalhador, pacífico e dedicado à família. Laudemir deixou esposa, uma filha de 15 anos e enteadas; segundo testemunhas e familiares, era muito querido no trabalho e em casa.

Segundo Ivanildo Gualberto Lopes, sócio-proprietário da Localix, Laudemir tentou apaziguar a situação durante a confusão no trânsito e acabou sendo atingido enquanto trabalhava. “Agora vai estar nas mãos da Justiça e nós iremos acompanhar”, afirmou Ivanildo.

Renê confessa ter matado gari

Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos, confessou ter matado o gari Laudemir durante interrogatório no Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), uma semana após o crime, na segunda-feira de 18/8.

Segundo a Polícia Civil, o empresário alegou que efetuou o disparo durante uma discussão de trânsito. Ele também afirmou que a sua esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino, não tinha conhecimento que ele havia se apoderado de sua arma, uma pistola, calibre .380.

Inicialmente, Renê havia negado a autoria durante o depoimento prestado após ser preso na tarde de segunda-feira (11/8). Naquele momento, ele havia afirmado que, no dia do homicídio, saiu de casa às 8h07 e seguiu o trajeto habitual até Betim, onde trabalha, sem nenhum tipo de intromissão.

O caso está sob investigação contínua da Polícia Civil. Renê foi autuado por homicídio duplamente qualificado e por ameaça contra a motorista do caminhão.

Homenagens e velório

Familiares, amigos e colegas se reuniram na manhã de terça-feira (12/08) na Igreja Quadrangular, em Nova Contagem, para o velório de Laudemir. Em falas marcadas pela revolta e pela dor, parentes o descreveram como “uma pessoa muito trabalhadora, uma pessoa honesta, muito carinhosa e protetora, que morreu trabalhando.”

A enteada Jessica França, 25, disse que a família está em choque e cobrou justiça. Ela informou que Laudemir é “uma pessoa muito trabalhadora, uma pessoa honesta, muito carinhosa e protetora, que morreu trabalhando. Saiu de casa cedo, era um dia que ia chegar mais tarde, mas não voltou. Todo domingo de manhã ele fazia café da manhã, cuidava da gente.” Em coro, colegas e o patrão também pediram que o caso não fique impune.

Emocionada, a esposa do gari, Liliane França, afirmou: “O Lau não voltou. Me devolveram o Lau no caixão. Não pode ficar assim, tem que haver uma mudança, tem que haver justiça.” Ela também cobrou respeito à categoria e lembrou das dificuldades e da falta de tolerância enfrentadas pelos garis.

A mãe do gari Laudemir de Souza Fernandes passou mal durante o velório do filho. Abalada, ela foi amparada por familiares e levada a um hospital após apresentar pressão muito baixa, conforme relatou a sobrinha de Laudemir.

Ivanildo Gualberto Lopes, sócio-proprietário da Localix, disse: “Agora vai estar nas mãos da Justiça e nós iremos acompanhar.” Ele reforçou que a categoria está sensibilizada e exigiu responsabilização: “Estamos clamando por justiça. A nossa categoria é muito forte. Então não mexa com os garis.”

Defesa do suspeito abandona caso

Os advogados Leonardo Guimarães Salles, Leandro Guimarães Salles e Henrique Viana Pereira, responsáveis pela defesa do empresário Renê Nogueira da Silva Júnior — principal suspeito de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos — protocolaram um pedido de renúncia do caso na segunda-feira (18/8), uma semana após o assassinato.

Os profissionais, que pertencem ao escritório Ariosvaldo Campos Pires Advogados, renunciaram após a divulgação de vídeos que mostram os passos de Renê após o crime.

O TEMPO

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