Símbolo da Amazônia e querido no mercado global de superfoods, o açaí é hoje uma das cadeias produtivas mais fortes da bioeconomia brasileira. Só no Pará, o estado que mais produz o fruto no país, mais de 150 mil famílias dependem diretamente da atividade para gerar renda.
A Tribo Superfoods e a ForestiFi, ambas startups apoiadas pela Amaz Aceleradora de Impacto, concluíram a primeira operação de tokenização do açaí, realizada em Igarapé-Miri (PA).
A emissão privada levantou R$ 200 mil em recursos, com a venda de 8 mil tokens, todos adquiridos por investidores qualificados. O montante será destinado à cadeia produtiva local, fortalecendo a relação entre produtores, indústria e mercado.
Novo tipo de tecnologia
A tokenização é uma tecnologia baseada em blockchain, que permite transformar um ativo real — como a safra de açaí — em um ativo digital, o “token”. Cada token representa uma fração de valor daquele ativo, permitindo que investidores apoiem a operação e recebam retorno atrelado ao desempenho real da produção.
Mais do que uma forma de captação de recursos, a tokenização garante rastreabilidade e transparência em toda a cadeia: desde o produtor até o consumidor final.
De acordo com Maurício Pantoja, cofundador da Tribo Superfoods, essa inovação chega para resolver um problema histórico da cadeia do açaí: o baixo valor repassado aos pequenos produtores.
“O açaí é um produto com alta demanda, mas tratado como commodity. Os pequenos produtores acabam perdendo margem, enquanto o consumidor lá na ponta está disposto a pagar mais por um fruto com qualidade, procedência e impacto positivo. A tokenização garante que essa diferença de valor seja distribuída de forma justa, beneficiando quem realmente cuida da floresta”, explicou o empresário.
Polpa pura sem aditivos
A Tribo Superfoods atua com a produção de polpa pura de açaí, sem aditivos, que é vendida para outras empresas, inclusive para exportação. A ForestiFi, por sua vez, ficou responsável pela estruturação e emissão dos tokens. De acordo com Macaulay Abreu, cofundador da plataforma de investimentos, a operação busca não apenas captar recursos, mas testar e aprimorar um modelo de investimento escalável para as cadeias da sociobioeconomia amazônica.
“A cadeia do açaí tem um potencial muito grande para ações de investimento via tokenização. Essa primeira operação nos ajuda a entender os desafios específicos do setor e a planejar o aumento dos volumes investidos nos próximos anos”, afirmou.
Segundo Macaulay, a tokenização também traz ganhos diretos de eficiência para o operador, neste caso, a Tribo Superfoods, permitindo a antecipação de recursos e garantindo capital de giro imediato para a compra da produção das cooperativas.
“Antes, os pagamentos levavam dias. Agora conseguimos pagar no dia, o que facilita para os produtores e dá agilidade ao operador”, explicou.

Sustento para milhares de famílias
Para os produtores de Igarapé-Miri, o avanço da tokenização representa um marco para uma cadeia que sustenta milhares de famílias e mantém viva a economia local baseada na floresta.
O produtor Leubaldo Costa, da cooperativa Caepim em Igarapé-Miri (PA), destaca que o açaí sempre desempenhou um papel central no município. Segundo ele, o fruto é tanto a base alimentar das famílias quanto o principal motor econômico da região.
“O açaí garante que a gente vista nossos filhos, coloque eles na escola, melhore nossa casa e nosso transporte. Foi ele que ajudou o município a superar períodos de muita dificuldade. Hoje, é o que mantém nossas famílias de pé”, afirmou.
Leubaldo reforça que a parceria com a Tribo Superfoods tem contribuído para fortalecer esse modelo sustentável. Segundo o produtor, a empresa trouxe conhecimento técnico e novas ferramentas para ampliar a qualidade e o valor do produto, em conjunto com o compromisso da própria comunidade com boas práticas de produção e preservação ambiental.
“Nós já produzimos com consciência e respeito à floresta. A Tribo chegou para somar, com inovação e novas experiências, fortalecendo o que já fazemos. Esse modelo traz esperança de uma renda mais justa e de um futuro melhor para os produtores e para a floresta”, completou.
Parcerias que dão bons frutos
A Tribo Superfoods e a ForestiFi são startups em aceleração pela Amaz Aceleradora de Impacto, programa que tem como missão impulsionar negócios da sociobioeconomia amazônica e promover desenvolvimento sustentável na região.
Ambas iniciaram sua jornada de aceleração neste ano, a iniciativa reforça um dos pilares do programa: fomentar conexões estratégicas entre empreendedores, investidores e comunidades locais para fortalecer modelos de negócios que geram impacto positivo e renda na floresta.
“Para além do fortalecimento individual de cada um dos negócios apoiados e investidos, o objetivo da Amaz como dinamizadora de ecossistema é viabilizar soluções coletivas – que empreendedores e negócios se encontrem um ambiente colaborativo e seguro para implementar inovações que alavancam seus impactos positivos e, também, seu modelo de negócio. A operação conjunta entre Tribo e ForestiFi evidencia que, quando bem articulada e intencional, a cooperação tem potencial de gerar uma grande vantagem competitiva para o setor”, explica Gabriela Souza, gestora de operações da Amaz.












