Morre Sebastião Salgado, mineiro ícone da fotografia brasileira

Morreu aos 81 anos, nesta sexta-feira (23), o fotógrafo Sebastião Salgado mineiro foi um dos maiores nomes da fotografia no país.

A informação foi confirmada, nesta manhã, pelo Instituto Terra, centro de recuperação ambiental criado pelo fotógrafo e pela esposa dele, Lélia Wanick Salgado. A causa da morte ainda não foi divulgada e nem informações sobre as cerimônias de despedida.

“Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora”, diz trecho do comunicado.

“Neste momento de luto, expressamos nossa solidariedade a Lélia, a seus filhos Juliano e Rodrigo, seus netos Flávio e Nara, e a todos os familiares e amigos que compartilham conosco a dor dessa perda imensa. Seguiremos honrando seu legado, cultivando a terra, a justiça e a beleza que ele tanto acreditou ser possível restaurar. Nosso eterno Tião, presente! Hoje e sempre”, completou o Instituto Terra.

Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, no início de 2024, o artista comentou sobre a relação com a idade e o trabalho. “O que vier pela frente é lucro. As pessoas vivem, quando muito, até os 90, e estou mais próximo da morte”, declarou à época em que sinalizou um ritmo mais leve.

Homenagens

Em fevereiro deste ano, Sebastião Salgado foi homenageado em vida pela escola de samba Independente de Boa Vista, da cidade Cariacica, no Espírito Santo, estado onde o fotógrafo viveu na infância. O enredo “Os Olhos do Mundo – Assombros de Sebastião Salgado” levou ao sambódromo três carros, dois tripés, 19 alas e 1.800 componentes.

Pelas redes sociais, fãs, autoridades, artistas e amigos lamentaram a partida do artista mineiro. Veja a repercussão a seguir:

Margareth Menezes, cantora e Ministra da Cultura Margareth Menezes:

Renato Casagrande, governador do Espírito Santo:

Fernando Haddad, ministro da Fazenda:

Quem foi Sebastião Salgado

Sebastião Salgado nasceu nasceu em Aimorés, no Vale do Rio Doce, no interior de Minas Gerais, em 8 de fevereiro de 1944. Foi no estado natal que ele conheceu Lélia Wanick Salgado, quando ela tinha 17 e ele, 19. Os dois estavam juntos há cerca de 61 anos. Ela se formou em Arquitetura e ele, em Economia. Os dois integravam um grupo revolucionário de esquerda e, conforme aumentava a perseguição política durante a ditadura militar brasileira, decidiram deixar o país para se exilarem em Paris.

Em terras francesas, Salgado descobriu o talento para a fotografia quando pegou emprestada uma câmera de Lélia. Sua ascensão foi meteórica em Paris, onde passou por diferentes agências e conseguiu deixar sua marca.

Mais tarde, Lélia se tornou diretora da galeria Magnum, antes de abrir um estúdio independente, que pouco a pouco passou a ser dedicado à produção de Salgado. O trabalho de Lélia é, aliás, reconhecido como chave para o sucesso do marido. “Não sei dizer onde termino e onde começa Lélia”, afirmou o fotojornalista na entrevista.

Trajetória

O início da carreira do fotógrafo foi marcado por críticas de colegas, que o acusavam de explorar e estetizar a miséria, mas Salgado rebate. “Eu não nasci aqui (na Europa). Eu vim do terceiro mundo. Quando nasci, o Brasil era um país em desenvolvimento. As fotos que tirei, tirei a partir do meu lado, do meu mundo, de onde venho”, explicou.

Na época, as críticas o abalaram e ele chegou a se distanciar do mundo da fotografia. Foi quando nasceu o Instituto Terra, criado pelo casal como uma organização não governamental que atua como centro de recuperação ambiental em Minas Gerais. A conexão com a natureza fez Salgado relembrar a paixão pelas lentes.

Pelo Instituto, Lélia e Sebastião começaram a coletar sementes, treinar técnicos rurais e então passaram a plantar milhões de árvores no estado. “Nós começamos com um viveiro de 25 mil árvores, depois expandimos para 125 mil. Hoje, nosso viveiro tem espaço para 550 mil árvores por ano, e no próximo ano, vamos expandi-lo para 2 milhões. É fantástico”, disse ao The Guardian.

A conexão com a natureza fez o fotógrafo redescobrir a paixão pela fotografia, conduzindo-o a dois dos seus mais significantes projetos: “Genesis” (2013) e “Amazônia” (2021).

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