Os casos de dengue no Amazonas não estão relacionados exclusivamente às chuvas, mas à precariedade do saneamento básico que é um fator estrutural de proliferação do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da doença.
A afirmação é de Adoréa Albuquerque, doutora em Geografia Física e professora da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), e da pesquisadora Cínthia Sampaio, que estudam o clima e doenças relacionadas a alterações climáticas.
“O ano de 2024 trouxe um dado alarmante: a maior seca já registrada no Estado do Amazonas não reduziu os casos de dengue. A ausência de sistemas de abastecimento de água obrigou muitas comunidades a armazenar água de forma inadequada, o que contribuiu para a proliferação do mosquito Aedes aegypti”, diz Cínthia Sampaio, que realiza pesquisa de doutorado sobre o tema.
Para a pesquisadora, a predominância de dengue é uma forma de medir quantas pessoas, em média, foram infectadas pela doença em um grupo de 10 mil habitantes. Esse cálculo, segundo ela, ajuda a entender o impacto proporcional da dengue em cada município, independentemente do tamanho da população.
“Para calcular a prevalência (predominância) dos casos de dengue, seguimos este passo a passo. Pegamos o número de casos de dengue reportados no município, dados do Datasus, dividimos esse número pelo total da população do município, usando os dados do Censo 2022 do IBGE, e multiplicamos o resultado por 10 mil para expressar a prevalência em relação a cada 10 mil habitantes”, diz Sampaio.
O estudo mostra que municípios como Guajará, com um índice de predominância de 6.181, o que significa que, para cada 10 mil habitantes, 6.181 pessoas foram infectadas pela dengue. Esse é o maior impacto proporcional registrado entre os municípios analisados pelo estudo.
Tonantins foi o município com a menor predominância, com 1.132 pessoas por 10 mil habitantes foram afetadas. Em Envira, 4.893 pessoas a cada 10 mil habitantes contraíram dengue. Codajás registrou 2.195 casos. Japurá apresentou 2.190 casos. Em Jutaí a predominância foi de 2.741 casos a cada 10 mil habitantes. E Lábrea apresentou 1.529 casos.
“Esses dados, extraídos do Datasus e do Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), evidenciam que a dengue está intimamente relacionada à carência de saneamento básico. A falta de infraestrutura, como o abastecimento de água potável, e banheiros adequados cria condições propícias para a multiplicação do mosquito agravando o problema mesmo em períodos de seca”, diz a doutoranda.
O Datasus disponibiliza informações que auxiliam na análises da situação sanitária, tomadas de decisão baseadas em evidências e elaboração de programas de ações de saúde.
Para as pesquisadoras da Ufam, há uma predominância de casos da doença que expõe o descaso em relação ao saneamento básico em diversos municípios do Amazonas que acaba impactando na saúde pública.
“Enfrentar a dengue exige medidas estruturais que vão além da sazonalidade climática, com ações de políticas públicas que garantam melhores condições de vida e reduzam as desigualdades socioambientais. A situação exige ações urgentes, que priorizem as populações mais vulneráveis e combatam as causas estruturais dessa grave ameaça à saúde coletiva”, diz Cínthia Sampaio.
Informe FVS
Segundo o informe epidemiológico da FVS (Fundação Vigilância em Saúde do Amazonas), no período de 1º a 23 de janeiro, 169 casos de dengue foram confirmados no estado, desse total 33 ocorreram em cidades do Alto Solimões.
De acordo o Ministério da Saúde, a dengue pode afetar diversos órgãos e sistemas do corpo, levando a complicações como:
- Desidratação grave: devido à febre alta e vômitos, podendo causar fraqueza, boca seca e diminuição da urina;
- Problemas hepáticos: como hepatite e insuficiência hepática aguda, manifestando-se por dor abdominal, icterícia (pele e olhos amarelados) e aumento do fígado.
- Complicações neurológicas: incluindo encefalite, meningite e síndrome de Guillain-Barré, com sintomas como confusão mental, convulsões e paralisias.
- Alterações cardíacas: como miocardite (inflamação do músculo cardíaco), resultando em dor no peito, falta de ar e arritmias.
- Problemas respiratórios: como derrame pleural (acúmulo de líquido nos pulmões), levando a dificuldade respiratória e dor torácica.
- Comprometimento renal: insuficiência renal aguda, evidenciada por redução da produção de urina e inchaço corporal.